segunda-feira, 27 de julho de 2015

As Mãos Desaparecidas

Um detective torturado, três perturbadores suicídios, um mundo de terror.

Mario Vega tem sete anos e a sua vida vai mudar para sempre. Numa casa de um subúrbio rico de Sevilha, o pai jaz morto no chão da cozinha e a mãe foi sufocada na sua própria cama. Inicialmente parece ser um suicídio, mas o inspector-chefe Javier Falcón tem as suas dúvidas quando encontra um enigmático bilhete amarrotado na mão do morto. 
Sob o calor brutal do Verão, Falcón inicia a investigação à obscura vida de Rafael Vega e começa a receber ameaças da máfia russa que opera na cidade há algum tempo. A sua investigação aos vizinhos de Vega levam-no a um casal americano com um passado devastador e ao tormento de um actor famoso, cujo único filho se encontra na prisão por um crime terrível. 
Seguem-se mais dois suicídios - um deles o de um polícia graduado - e um incêndio florestal que alastra pelas colinas de Sevilha. Falcón tem agora de desvendar a verdade, revelando que está tudo ligado e que há mais um segredo na vida sinistra de Rafael Vega.


A leitura deste livro, confirma que gosto de ler Robert Wilson.
A escrita forte, complexa, mas de fácil assimilação desde que dediquemos mais de cinco minutos à mesma. Pois se lermos duas linhas ou três, por ler, perdemos-nos no emaranhado dos pormenores e explicações ricas e profundas, mas não enfadonhas como em alguns autores que eu já li.

Os enredos são fortes, parecem-nos intransponíveis, mas depois de desvendados, apreciamos a singeleza da coisa, a justificação, a lógica. Claro que temos sempre que encarar personagens com suas tendências politicas mais ou menos entranhadas, mas isso é a escrita de Robert Wilson. Em todos os livros dele que já li, há uma manifesta tendência para a politica ou ideias politicas, apresentadas como parte da ação, sem serem a ação, mas justificativas de partes da mesma.

Javier Falcon é um detective que teve problemas na vida (não precisamos de os ter vivido com ele, porque vão-nos sendo apresentados de quando em quando, como justificações e sombras da vida atual). Não o abafam, nem o tornam uma personagem aflita, sofredora. Apenas lhe dão caracter e razão de ser como é.

Quando começa a descobrir que todas as mortes estão ligadas, a tudo (e mais não digo para não ser spoiler) não descansa enquanto não leva os criminosos à justiça. Se não consegue por um motivo, conseguirá por outro.

Se gostam de um bom policial, cheio de personagens reais com todas as melhores virtudes e os piores defeitos do ser humano, aconselho a leitura.

Só para vos dar um vislumbre do tipo de escrita de Roberty Wilson, deixo aqui dois excertos:

A visita a uma prisão e o transmitir o ambiente que se percebia.
"O ar estava repleto de mentes aborrecidas curvadas sobre tempo comprimido enquanto estavam a beber o forte licor hormonal de frustrações engarrafadas"

Conversa entre dois homens. Oponentes por motivos pessoais, mas na mesma causa profissional.
"Calderón lançou-lhe um olhar que lhe acertou de raspão na orelha."

A escrita, como já disse é forte, complexa, mas lógica, direta e tem no entanto este tipo de narração ao longo de todo o livro, sem no entanto, o encher e se tornar demasiado cheio de nada.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

O Silo


Num mundo pós-apocalíptico, encontramos uma comunidade que tenta sobreviver num gigantesco silo subterrâneo com centenas de níveis, onde milhares de pessoas vivem numa sociedade completamente estratificada e rígida, e onde falar do mundo exterior constitui crime. As únicas imagens do que existe lá fora são captadas de forma difusa por câmaras de vigilância que deixam passar um pouco de luz natural para o interior do silo. Contudo há sempre aqueles que se questionam... Esses são enviados para o exterior com a missão de limpar as câmaras. O único problema é que os engenheiros ainda não encontraram maneira de garantir que essas pessoas regressem vivas. Ou, pelo menos, assim se julga...

Não o li em nenhum record de tempo, mas li rapidamente. E isso significa que lemos e lemos e queremos saber o que vai acontecer.
Hugh Howey tem uma escrita fluída, com apenas uma condicionante, pelo menos neste livro que é o único que até agora li dele, demasiados detalhes. Houve alturas em que me "perdi" na arquitectura daquele silo, no labirinto dos corredores e câmaras de cada nível. Não me prejudicou em nada e às vezes acho que tal confusão, apesar de tão detalhadamente exposta, serviu para imaginar até que ponto será claustrofóbico viver num local daqueles. De tal forma, que quando no inicio, Holston, uma das personagens que foi condenada à limpeza, eu já desejava que ao chegar lá fora, visse um mundo diferente do que as câmaras "nos" davam a conhecer e ficasse a viver, de alguma forma, no exterior.Mas não, assim o livro não teria razão de se chamar O Silo.

Embora não especialmente de ler livros em que a maior parte da narração é interrompida por cenas passadas, para nos justificar aquela acção do presente que estamos a ler, gostei da forma, como nos primeiros capítulos, o autor nos apresenta uma situação (que pela sinopse sabemos que se trata de uma sentença de morte a quem se atrevia a por em causa) e no capítulo seguinte voltávamos atrás (mas já após a parte em que conhecemos a personagem) para sabermos como ela tinha chegado aí. E lá voltava eu a desejar que agora aquela personagem conseguisse viver no exterior. Está visto que a claustrofobia, ainda que discretamente apresentada, estava lá. A sociedade tem que ter regras para funcionar, mas regras baseadas no terror não são funcionais.

Gostei muito de Juliette. Uma mulher sem dúvidas e sem conflitos interiores que a tornassem uma "apertadinha" do estilo não sei o que faço ou vá fazer. Nada disso. Tomava os assuntos que pretendia resolver nas mãos e seguia em frente, sem perder tempo. É aquele tipo de personagem que neste tipo de histórias, vai dar a volta a tudo tal como um tornado ou um libertador. E são as ações de Juliette que fazem a história deste livro.


Não digo mais nada, ou vou estragar a surpresa de quem ainda não leu e deseje ler, embora gostasse mesmo de dizer mais algumas coisas, mas ia ser spoiler, de certeza.

No final deste silo, tive a oportunidade de ler o primeiro capitulo do livro que se segue e que não é nada mais nada menos do que a história anterior a esta. Ora, tendo nós lido, a vida de uma humanidade pós-apocalíptica em silos, há-de ser interessante recuar e saber como se chegou lá exatamente, pois a dada altura nos finais do primeiro livro, há uma espécie de uma explicação muito pouco detalhada de uma personagem a outra.

É uma distopia, claro. Que pelo visto, anda agora muito na moda, porque os autores já chegaram à conclusão que a realidade atual, deixou de ser interessante e dedicam-se ao futuro e sempre a um futuro negro. Mundos pós-Apocalipse (alterando o significado do nome, já que Apocalipse é o fim, o derradeiro ato do mal, desejando que se sobreviva ao mesmo, porque sim), onde as sociedades vencem pelo medo, sujeitas a opressões sem fim, onde o simples fato de se desejar respirar é crime que se paga com a vida.