domingo, 29 de setembro de 2013

Quando Lisboa Tremeu

Lisboa, 1 de Novembro de 1755. A manhã nasce calma na cidade, mas na prisão da Inquisição, no Rossio, irmã Margarida, uma jovem freira condenada a morrer na fogueira, tenta enforcar-se na sua cela. Na sua casa em Santa Catarina, Hugh Gold, um capitão inglês, observa o rio e sonha com os seus tempos de marinheiro. Na Igreja de São Vicente de Fora, antes da missa começar, um rapaz zanga-se com sua mãe porque quer voltar a casa para ir buscar a sua irmã gémea. Em Belém, um ajudante de escrivão assiste à missa, na presença do Rei D. José. E, no Limoeiro, o pirata Santamaria envolve-se numa luta feroz com um gangue de desertores espanhóis. 
De repente, às nove e meia da manhã, a cidade começa a tremer. Com uma violência nunca vista, a terra esventra-se, as casa caem, os tectos das igrejas abatem, e o caos gera-se, matando milhares. Nas horas seguintes, uma onda gigante submerge o terreiro do Paço e durante vários dias incêndios colossais vão atemorizar a capital do reino. Perdidos e atordoados, os sobreviventes andam pelas ruas, à procura dos seus destinos. Enquanto Sebastião José de Carvalho e Melo tenta reorganizar a cidade, um pirata e uma freira tentam fugir da justiça, um inglês tenta encontrar o seu dinheiro e um rapaz de doze anos tenta encontrar a sua irmã gémea, soterrada nos escombros.


E vamos passar uma semana, os primeiros dias mais aprofundados, na companhia destas personagens. De vez em quando encontram-se todos, outras vezes estamos com uns dois ou três de cada vez, à medida que os acontecimentos os levam a ser protagonistas.

Foi uma leitura leve e boa. Alindado ao gosto do autor, ficamos a saber como foi o Grande Terramoto, como as pessoas que o sofreram reagiram e como se aproveitaram dele para fazer vingar os seus desejos de liberdade, de escape às condenações mais atrozes e como, com ele, se reencontraram com o seu passado (em alguns casos claro).

Gostei mas tenho alguns reparos a fazer, ou não fosse eu uma má língua, a dizer mal de quem escreve e tem a sua escrita reconhecida. Mas como é para isso (também) que os leitores servem, aqui vai:
Acho que o autor gosta muito de criar personagens por quem todas as mulheres (e neste caso, pelo visto, homens) se interessem. Cada autor cria nos seus personagens os defeitos ou virtudes que mais lhes agradam, e este (defeito ou virtude) parece-me que lhe agrada muito.

Santamaria (alcunha do pirata personagem principal, de quem só conheceremos o nome verdadeiro no final - o autor assim quis e eu acho muito bem e não o vou trair. Já me basta criticar), é um autêntico macho latino, sedutor, engatatão. Ele são prostitutas, ele é um árabe que o prendeu e lhe dá a liberdade a troco de favores sexuais (só saberemos deste fato mais tarde), ele é uma suposta freira, uma ex-escrava, enfim. 

O rol é tal que acho que o padre Malagrita tinha a sua razão quando dizia que Lisboa era um antro de luxuria e perversão, tal como Sodoma e Gomorra, chegando a dizer que o terramoto era um castigo divino.
(O padre Malagrita acabou mais tarde por ser condenado por Sebastião Carvalho e Melo, nessa altura Marquês de Pombal e acabou por morrer na fogueira - um dos últimos condenados ao fogo da Inquisição. Embora esta parte não seja relatada no livro, não é difícil imaginar que assim seria porque os atritos entre os dois aquando do terramoto são bens explícitos: o Ministro a querer tomar em mãos o resolver imediato da situação com forças de segurança que além de servirem para evitar que as pessoas saíssem de Lisboa, serviriam para distribuir alimentos aos desalojados e socorrer os feridos, e o padre a querer fazer procissões e rezar terços para aplacar a fúria divina.A mim também me irritou um pouco, mas não iria mandá-lo queimar por isso.)

Avancemos. Como disse antes, o padre estaria com razão no seu ponto de vista sobre a imoralidade de Lisboa e digo isto porque no meio do caos em que se vivia, no espaço de uma semana nem tanto, entre escapar ao terramoto, ao maremoto e aos incêndios que se seguiram e à fuga da prisão (sem contar com os relatos da vida de cada um, anteriores ao terramoto), esta gente (os personagens que dos outros não sabemos) aproveitava cada bocadinho dos dias e das noites para dar vazão aos seus desejos sexuais: Santamaria com a freira, com a escrava e de novo duas vezes com a freira; a freira por sua vez além de Santamaria, teve como parceiro o inglês e uma freira lésbica, o inglês que além da freira, ainda se deitou com a ex-escrava e não houve mais porque a dada altura foram todos apanhados e acabou-se a loucura.

Além deste excesso de relações sexuais que talvez fossem justificadas pela necessidade de aliviar o sofrimento que se vivia (isto sou eu a ser irónica) o livro só peca por um rol enorme de todos os monumentos e edifícios de tombaram vitimas do terramoto e dos incêndios. Acho que a grandiosidade do desastre podia ter sido dada a conhecer, sem relatar tipo lista, cada um dos desabamentos e queimadas.

São opiniões e este blogue serve para isso. De qualquer forma, é muito bom de ler, ficamos com uma ideia do que se passou naquele momento fatídico da nossa história e de como as várias personagens envolvidas lidaram com a terrível situação e leva-nos a pensar como reagiríamos nós em catástrofe semelhante, não porque o tipo de narração nos convide, mas porque nós, como meros seres humanos, nos levamos a pensar nisso.

domingo, 22 de setembro de 2013

A Passagem

Já percebi porque me falham sempre os propósitos de ler livros pela ordem que me proponho quando os tenho: aparece sempre um novo que se mete pelo meio.


Sinopse - A Passagem - A Passagem - Livro 1 - Justin Cronin

Quase um século depois que uma pesquisa científica financiada pelo Exército dos Estados Unidos foge do controle, tudo o que resta é uma paisagem apocalíptica. As cobaias utilizadas nos experimentos – prisioneiros a caminho do corredor da morte – escaparam do laboratório e iniciaram uma terrível carnificina, alimentando-se de qualquer ser com sangue nas veias e espalhando por todo o continente o vírus inoculado nelas.
Um em cada 10 habitantes pode ter sido infectado. Os outros nove se tornaram presas desses virais, criaturas animalescas extremamente ágeis e fortes cujos únicos pontos fracos parecem ser a hipersensibilidade à luz e uma pequena área frágil próxima ao esterno.
Em uma fortificação construída nas montanhas, cercada de muralhas de cimento e holofotes super potentes, uma comunidade tenta sobreviver aos constantes ataques nocturnos. Mas a precária estrutura que a protege está com os dias contados: as baterias que alimentam as luzes começam a falhar e uma invasão é iminente.
Não se sabe o que aconteceu ao resto do mundo: a comunicação foi cortada, não há governo e o Exército nunca cumpriu a promessa de voltar. Provavelmente estão todos mortos. Mas a chegada de uma misteriosa andarilha traz novas expectativas: ao que tudo indica, ela tem as mesmas habilidades dos virais, mas não sua necessidade de sangue. Agarrando-se a essa esperança, um grupo parte da Colónia para buscar mais sobreviventes – e a verdade fora dos muros.
Com uma narrativa tensa e bem-estruturada, Justin Cronin constrói personagens de complexidade psicológica surpreendente. Na transição do mundo que conhecemos para um que não poderíamos imaginar encontra-se uma humanidade sitiada pelos próprios erros.

É curioso que, embora goste de ver filmes sobre futuros próximos durante ou após catástrofes, epidemias ou o que seja do género, raramente me preocupo em procurar livros sobre esses temas. Acho que tenho receio que me desiluda ou que o livro não seja tão espectacular como o filme (só neste tema, porque ninguém me verá trocar um livro por um filme, qualquer que seja).

Por mero acaso, nem me recordo se foi em algum blogue, deparei-me com esta sinopse, li as primeiras páginas e decidi que tinha que ler o livro.
E li. Não ultrapassei nenhum recorde de leitura, mas interrompi um que começara e em uma semana e apenas em alguns pedaços livres, mas eficientes, li o livro.

O primeiro parágrafo da sinopse refere-se ao inicio do livro e nós começamos a dedicar-nos aos personagens apresentados nesta parte. Mas a dada altura, o tempo passa apressado, urgente, e somos apresentados a uma nova época na triste história desta humanidade e todo o resto do livro é passado com novos personagens.
Personagens esses que nos são apresentados de uma forma cativante pelo autor e os iniciais que achávamos eram os únicos sobre quem queríamos ler, passam para um segundo plano e são estes agora, magistralmente apresentados que nos interessam e a quem nos dedicamos.

Independentemente do tema ser do interesse geral, ou não, o autor consegue prender-nos à narrativa e deixar-nos à espera de saber mais. É magistral o apresentar dois grupos com o mesmo destino, viajando de formas diferentes e o sabermos primeiro o que sucede com o segundo grupo a chegar, para ficarmos desejando saber o que aconteceu quando o primeiro chegou. Faz isto ao longo do livro e leva-nos a reencontrar personagens que julgamos perdidos para sempre e a dar como perdidos alguns que julgávamos tinham ficado em algum lugar.

E chegamos ao final do livro, sem saber o que aconteceu ou vai acontecer e desejando ler o livro seguinte para saber...
Só lamento ter lido uma versão em português brasileiro. Não me desiludiu na leitura, mas desconsolou-me com a escrita. Nada que não se ultrapasse dado o suspense de todo o livro.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Inferno

"Procura e encontrarás"
É com o eco destas palavras na cabeça que Robert Langdon, o reputado simbologista de Harvard, acorda numa cama de hospital sem se conseguir lembrar de onde está ou como ali chegou. Também não sabe explicar a origem de certo objeto macabro encontrado escondido entre os seus pertences.

Uma ameaça contra a sua vida irá lançar Langdon e uma jovem médica, Sienna Brooks, numa corrida alucinante pela cidade de Florença. A única coisa que os pode salvar das garras dos desconhecidos que os perseguem é o conhecimento que Langdon tem das passagens ocultas e dos segredos antigos que se escondem por detrás das fachadas históricas.

Tendo como guia apenas alguns versos do Inferno, a obra-prima de Dante, épica e negra, veem-se obrigados a decifrar uma sequência de códigos encerrados em alguns dos artefactos mais célebres da Renascença - esculturas, quadros, edifícios -, de modo a poderem encontrar a solução de um enigma que pode, ou não, ajudá-los a salvar o mundo de uma ameaça terrível…

Passado num cenário extraordinário, inspirado por um dos mais funestos clássicos da literatura, Inferno é o romance mais emocionante e provocador que Dan Brown já escreveu, uma corrida contra o tempo de cortar a respiração, que vai prender o leitor desde a primeira página e não o largará até que feche o livro no final.


Se ainda não tinham pensado em visitar Florença, depois de lerem Inferno de Dan Brown vão sentir vontade de visitar.
Inferno é um guia turístico na verdadeira acepção da palavra. Uma escrita muito leve e muito agradável, é o livro de Dan Brown mais fácil de se ler, sem a exaustiva explicação técnica e cientifica dos outros e consegue deixar-nos desejosos de visitar as três cidades retratadas no livro: Florença, Veneza e Istambul, mas é também o livro mais fraco dos que já li.

A acção propriamente dita, resume-se a dez por cento do livro, intercalada na apresentação turística.

Apesar de uma acção curta, esta centra-se num dos temas mais discutido pelos cientistas e OMS (Organização Mundial de Saúde) - o excesso de população. Neste momento, somos quase 7 biliões de pessoas no planeta e representamos, segundo alguns cientistas, uma catástrofe. A terra com os seus ecossistemas não suporta tanta gente e brevemente os recursos indispensáveis à nossa sobrevivência, irão esgotar-se.
E alguém decide resolver este assunto por suas próprias mãos.
Num prazo curto e ao mesmo tempo desconhecido, cabe a Robert Langdon e mais umas quantas personagens impedir essa resolução.

O curioso do livro é que as pessoas que são contra soluções radicais levadas a cabo, por outros, para resolver certos problemas, são exatamente as mesmas a não fazer nada ( e diria até a aceitar essas soluções) quando essas soluções radicais não lhes tocam na hora, mas irão surtindo efeito em um futuro próximo, com a justificação de que já está feito e tudo o que se fizer agora, poderá ir piorar.

E voltamos ao uma das máximas do livro que é apresentada vezes sem conta: os piores castigos do inferno estão reservados para aqueles que sabendo das coisas, nada fazem.