quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O Teu Rosto Será o Último


Tendo como "pano" de fundo para a acção as histórias de três gerações de pessoas da mesma familia,
Duarte, jovem talentoso que se revolta contra o seu próprio talento de pianista, a do pai de Duarte, António, marcado pela guerra colonial que teve de fazer, como furriel, em Angola, e a de Augusto, pai de António e avô de Duarte, um médico de província refugiado numa aldeia da Serra da Gardunha, vamos ao longo do livro deslizando por vários outros personagens que de alguma forma estiveram envolvidos com estes três personagens. O livro inicia-se na noite de 25 de Abril de 1974.
Do envolvimento entre todas as personagens que nos aparecem ao longo do livro, só tomaremos conta no final do livro, quando a conclusão de uma história, nos explica, mais ou menos, o porquê de outra.
Gostei, mas estranhei a forma de escrita. O repetir de frases exactamentre iguais durante páginas inteiras, não me convence. Por exemplo num dos ultimos capítulos que se intitula "O Interrogatório"vamos lá saber-se porquê (??), é todo, mas digo todo, nestes termos:
O inspector perguntou: Como te chamas?   Duarte respondeu: Duarte...
O inspector perguntou: Onde estiveste na noite....; Duarte respondeu: Na capela....
O inspector perguntou: Sabes que ....; Duarte respondeu: Sei. É....
E isto durante um capítulo inteiro.
Se era para nos mostrar a "violência" e a insistência do interrogatório, conseguiu. Mas eu gostaria mais que fosse demonstrada de outra forma.

Mas o autor deve gostar mesmo deste tipo de escrita, porque num capítulo anterior, com outros personagens, faz exatamente a mesma coisa.
Acaba por nos obrigar a prestar atenção ao que os personagens perguntam, de fato, mas não nos chega a dizer se estavam aborrecidos, irados,  ou apenas a fazer o seu trabalho.
De qualquer forma gostei de ler, até porque as circunstâncias em que o li, pediam uma leitura sem suspense, sem nos obrigar a pensar.
Só tive pena de ser uma história com pedaços soltos de uns e outros personagens e não uma história com principio, meio e fim. O autor não nos contou nada de novo, não criou para nós lermos um mundo, uma história entre personagens. Limitou-se a contar coisas de uns e outros que no fim estão relativamente interligadas.

Quando iniciei a leitura, achava eu que alguém da familia, por alguma forma estaria envolvido nos acontecimento do 25 de Abril ou até na morte do primeiro personagem que nos aparece e que sai de casa de madrugada com uma arma na mão, para aparecer mais tarde, morto. Ligação com ele, só a do Dr. Augusto que muito anos atrás lhe deu guarida.
Isto sou eu que gosto de policiais, claro.
Mas é bom de ler e se nos embrenharmos na leitura, o que não é dificil se quisermos saber o que aconteceu a cada personagem, mas que nunca iremos saber a 100%, chegamos ao fim quase sem dar por isso, mas com a sensação que poderiamos ter sabido mais do que nos contaram. E com a certeza de que o que nos contaram não nos satisfez por aí além.

Mas podem ler. Autores portugueses são sempre de ler e este até escreve bem.
 
 
 

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Anjos Perdidos em Terra Queimada

 
 

Sinopse:
É o verão mais quente de que os habitantes da província de Östergötland, no centro da Suécia, têm memória. A cidade de Linköping derrete com o calor e nas florestas os incêndios estão fora de controlo, tornando o ambiente sufocante. A inspectora Malin Fors é chamada ao parque municipal, onde uma adolescente foi encontrada nua e coberta de sangue.
Quem telefonou a informar que a encontrariam ali? E afinal o que é que realmente lhe aconteceu? Enquanto a polícia se debate para dar resposta a estas perguntas, outra rapariga desaparece e uma descoberta arrepiante tem lugar numa praia fluvial nos arredores da cidade. Malin, que tem uma filha adolescente, teme pela sua segurança e, provavelmente, não está a exagerar. Anjos Perdidos em Terra Queimada é o segundo volume da excepcional tetralogia de Mons Kallentoft que tem na inspectora Malin Fors a principal personagem que os leitores começaram a conhecer em Sangue Vermelho em Campo de Neve. Nesta nova história somos transportados para um enredo perturbador onde os preconceitos sexuais, a desconfiança face aos imigrantes, os amores desesperados e o ódio acumulado ao longo dos anos dão origem a um arrepiante cenário de crime e mistério.

E já está lido.

Confirma-se a forma de escrita de que gostei no primeiro livro que li do autor. A presença da inspetora e a comparação que faz da sua própria vida com a acção onde está envolvida.
A necessidade de que a sua própria vida atinja um objetivo, como se esse atingir lhe desse mais facilidade de resolver os casos que tem entre mãos.
E no final, para nos "enervar" e que aliás já desconfiavamos, a sua própria filha, é apanhada pelo criminoso. Esta situação é imaginada e indesejada várias vezes ao longo do livro, pela inspetora, de forma que já calculávamos que fosse acontecer.

Mas resolveu-se a bem e mal seria, se não se tivesse resolvido a bem e a tempo.

Houve uma proposta do autor, de enredar nesta ação uma das personagens do livro anterior. Uma vitima (a única que ficou sem criminoso associado), dando-nos a hipótese de que um dos suspeitos dos crimes deste livro, pudesse ter alguma coisa a ver com o seu ataque. Mas não desenvolveu. Ficou como mera hipótese, não sei se apenas para nos deixar a pensar no proximo, ou se serviu apenas para fazer a ligação com o anterior.

Também nunca chegamos a saber quem telefonou a dar conta da rapariga perdida no parque e os incêndios, não são cenário para os crimes, como se poderia calcular pelo titulo. São apenas o ambiente onde se desenrola parte da acção e servem para reforçar a ideia das elevadas temperaturas, que eu não acharia possiveis na Suécia.

Mais uma vez, aparece-nos um monólogo a itálico que já sabemos pela leitura do livro anterior, que pertence a uma das vitimas assassinadas. Quanto a mim, acho que foi exagerado, neste livro. Talvez porque já sabemos que pertence ao morto, não há necessidade de se prolongar, com pensamentos, desejos e pedidos de socorro nem sempre dirigidos para si, depois de sabermos quem é a vitima, como morreu e depois de ser encontrada. Começa a extenuar, porque perde o mistério e só ocupa espaço no livro, uma vez que não resolve nada.

Sinceramente acho que o primeiro (era o desconhecido) me cativou mais do que este. Não conhecia os personagens e achei mais aceitável um inverno gélido na Suécia do que um verão tórrido, mas a escrita é assim mesmo, a possibilidade de criarmos realidades alternativas.

Claro que já estou pronta para correr as duas estações do ano que me faltam. Não vou desistir. Gostei o suficiente para continuar.