Uma vez que já está editada, já posso transcrever a minha participação, que mantém o mesmo tema da anterior.
A ti, leitor, me confesso.
Há confissões que não podemos fazer a ninguém, porque
arriscamo-nos a ser penitenciados, a ser castigados pelos nossos pensamentos
mais íntimos ou atos mais ou menos vis.
Há confissões que nos rasgam a alma se as fazemos a
quem não as entenda, e que nos fazem perder pedaços de nós, porque as guardamos
como nossas, como se as guardando, pudéssemos preencher espaços que não
queremos em branco.
Há confissões que só de pensarmos em as dar a conhecer
nos doem como se fossem tão nossas que mais ninguém as pode conhecer.
E há confissões que nos libertam. Libertam a paz que
nos devia inundar e está atravancada, coberta por dores, remorsos, ódios, medos,
à espera de serem confessadas.
Quando a nossa vida nos leva a passos ingratos que
depois de dados não valem nada, os remorsos atacam como águias famintas e nada
do que podermos fazer, nos alivia. É por isso que esses passos, afinal, devem
ser confessados, largados, esquecidos, para que deem espaço a outros.
A ti, leitor, me confesso.
Quando escrevo, poderia escrever um livro para ti, mas
não.
Poderia criar uma personagem que te agradasse quando a
conhecesses e fazê-la movimentar-se por locais e ações que te despertassem
qualquer coisa de bom, mas não.
Poderia escrever por ti, para ti, mas não.
Confesso que o faço por mim.
Escrevo porque quero experimentar a realização de
desejos e sonhos que de outra forma, ficariam calcados em mim.
Crio uma personagem com as características que desejaria
encontrar em pessoas que me rodeiam, mesmo quando a ação me obriga a criar
outras que só de longe gostaria de encontrar.
Imagino locais onde gostaria de estar. Não que me
dedique muito a descrevê-los nos contos, apenas o suficiente para que tu te localizes,
porque o resto eu sei e imagino-me lá. Crio tramas que nem sempre gostaria que
me acontecessem, mas apenas para ver como os meus personagens reagem frente a
elas.
Por isso, leitor, como vês, é por mim que escrevo.
Esta forma egoísta de escrever, não procura leitores, mas aprecia quando os
tenho.
É por isso que são poucos, mas bons. Os que começam e
não gostam devem parar de imediato, para não criticarem demasiado. Os que
gostam seguem em frente e não criticam este egoísmo, de personagens minhas e de
locais únicos, discretamente anunciados.
A ti, leitor, me confesso.
Não vou parar de escrever, desta forma. É esta forma
que me ajuda a viver quando as coisas reais da vida, não me incentivam.
Acho que se antes quando me lias, não achavas correto
ou não entendias a forma como te apresentava quer os personagens quer a ação,
sem os partilhar, agora já sabes porque o faço e quando me voltares a ler,
talvez, espero que sim que talvez, me entendas melhor e aprecies mais o que
lês, como sendo uma forma de me confessar quando não quero que a confissão
pareça tão literal, não vá dar-se o caso de ter que me penitenciar, pois deves
ter percebido que me acho no direito de ser egoísta com os meus contos.
E agora que a ti, leitor, me confessei sinto-me mais completa,
mais forte, mais livre, como se, apenas pela confissão, tivesse a certeza do
perdão e sem penitências, tivesse sido redimida.
Conforme disse um dos autores de uma confissão - não é o que se confessa que é importante, é o ato de confessar.
1 comentário:
Por razões acrescidas.
Renovo parabéns.
Gostava que vivesse mais por estes lados para ir aprendendo algumas coisas consigo.
Essa força de focalizar e persistir!
Irei estando atento.
Zé
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